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Preso segundo envolvido com o roubo seguido de morte do advogado no Horto

Detido ontem, Reinaldo Couto, de 34 anos, disse que era comandado pelo garoto de 13 anos. Delegada duvida

SAMUEL LIMA

O segundo criminoso envolvido com o roubo seguido de morte do advogado Lucas Lorenzo Trigo, 27 anos, na noite da última terça-feira, no Horto Florestal (Brotas), foi preso no final da tarde de ontem.



Reinaldo da Mata Couto, conhecido como Macum Branco, 33, foi encontrado na Rua Apolinário Santana, Engenho Velho da Federação, em uma ação de policiais civis e militares de quatro unidades (7ª CP, Esquadrão Águia, 26ª e 41ª companhias da PM).



Conforme os policiais, Reinaldo admitiu participação no delito, mas apontou César Ferreira Santana, de 13 anos, como o mentor da investida e autor do disparo que tirou a vida de Lucas. Logo após o crime, o adolescente foi morto a tiros por PMs da Rondesp, que saíram em perseguição.



De acordo com o comissário Paulo Portela, chefe de investigação da 7ª CP (Rio Vermelho), que participou da operação, foram encontrados na residência de Reinaldo, no Engenho Velho da Federação, pertences de vítimas de assalto e a camisa com a qual o acusado estava no momento em que atacou o advogado.



Reinaldo foi conduzido à 6ª CP (Brotas), onde a morte de Lucas é apurada. A delegada titular, Maria Fernanda Porfírio, confirmou que Reinaldo foi autuado em flagrante por latrocínio (quando há assalto seguido de assassinato). Segundo ela, a carteira e o celular da vítima foram recuperados em poder de César.



A delegada disse não acreditar na versão de Reinaldo – na qual ele incrimina o adolescente.



"Não acredito que o adolescente tenha planejado o crime, levando em conta que há o envolvimento de uma pessoa contumaz na prática de roubos, no caso Reinaldo.



Ele também não se deixaria levar pelo adolescente", analisou Maria Fernanda.



Nos registros da Secretaria da Segurança Pública, consta que Reinaldo responde a um inquérito por furto e que já foi conduzido à Delegacia de Proteção ao Turista depois de sofrer uma queda de motocicleta, quando era perseguido por militares, suspeito de assaltar um casal de turistas.



Conforme Paulo Portela, a equipe da 7ª CP estava à procura dele desde a última segundafeira. "Tivemos informações de que ele cometeu vários assaltos na região da Avenida Vasco da Gama naquele dia. Antes mesmo de ele cometer o latrocínio", frisou o investigador.



Portela revelou que Reinaldo e outros bandidos tomaram de assalto um VW Fox de uma advogada, no último dia 8, na Avenida Adhemar de Barros, Ondina. "Se não fosse um trabalho conjunto, não teríamos este resultado. Pelo menos demos uma resposta rápida à sociedade", comemorou a delegada.

TRÁFICO DE DROGAS É FATOR PREPONDERANTE

Segundo a delegada Claudenice Maio, da unidade para adolescentes em conflito com a lei (DAI), que fez um levantamento das motivações dos crimes, cerca de 90% das entradas têm relação com drogas



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Recém-casado, Lucas era tranquilo e muito querido


DANILE REBOUÇAS

Nascido em Salvador, Lucas Lorenzo Trigo, que morreu aos 27 anos, foi criado pela bisavó, Maria Nonato Andrade, 86. Cresceu e viveu a infância e adolescência na casa de número 41, na Rua da Mangueira, Mouraria. Estudou no Colégio Jesus Crucificado, perto de casa, e formou-se em direito há três anos.



Conforme relato do arquiteto Manoel Lorenzo, filho de dona Maria Nonato, os pais de Lucas não tinham condições de criá-lo e a bisavó começou a cuidar dele desde pequeno.



"Lucas teve uma formação católica, sempre foi muito estudioso e caseiro, não era muito de sair", ele disse. O jovem cursou direito na Universidade Católica do Salvador (Ucsal), com crédito estudantil.



Durante o curso, fez alguns estágios. Há dois anos, tirou a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).



Mesmo sendo criado pela bisavó, mantinha um relacionamento próximo com os pais biológicos. A mãe dele, Elizabeth Lorenzo Trigo, e dois irmãos, de 6 e 14 anos, também moram na Mouraria atualmente.

Trabalho

Lucas trabalhou na empresa Biobrax, mas havia saído, recentemente, passando a estudar para concurso. Em paralelo, tinha um escritório de advocacia junto com colegas, onde mantinha clientes nas áreas civil e trabalhista. De acordo com Manoel Lorenzo, o jovem queria seguir a área de direito tributarista. "Todo o tempo livre dele era para o estudo e a família. Estava se preparando para concurso, estudava inglês. Ele estava arrumando um apartamento novo e tinha um carro: uma pessoa simples", definiu.

Família

Há três meses, Lucas casou-se com Poliana Silva Oliveira, 29, com quem mantinha um relacionamento de cerca de quatro anos. Planejava ter filhos.



Ele continuou a morar na Mouraria, com a mulher, numa rua transversal à da bisavó (Rua Junqueira Freire).



Poliana estava na Fiocruz, no Horto Florestal, e Lucas estava indo ao encontro dela, quando foi vítima do latrocínio, na noite da última terçafeira. O advogado não praticava esportes nem era de viajar muito. Manoel informou que Lucas apenas conhecia algumas cidades do interior da Bahia.



Quem o conhece da Mouraria, diz que se tratava de um menino tranquilo e muito educado. "Sempre cumprimentava todo mundo, menino muito bom", definiu um dos vizinhos, que pediu a A TARDE para não ter o nome identificado. Mesmo depois de ter se casado, Lucas frequentava muito a casa da bisavó.



"Quase todos os dias, ele almoçava com ela", diz outro vizinho. Na borracharia em frente à casa onde ele se criou, todos lamentaram a morte.



Somente ontem, familiares deram a notícia a dona Maria, que há quatro dias não está muito bem de saúde. Elizabeth, mãe do jovem, também recebeu a notícia ontem.



"Meu filho era muito crente em Deus e estava muito feliz com o casamento. É uma dor que só a família sente. Foi uma fatalidade", lamentou Elizabeth.

O advogado Lucas Lorenzo cresceu na casa 41, na Rua da M angueira, Mouraria

Ele cursou direito na Universidade Católica (Ucsal), com crédito estudantil

"Ele era crente em Deus e estava feliz com o casamento"


ELIZABETH LORENZO, mãe de Lucas, assassinado no Horto



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Família diz que César mudou ao frequentar casa de videogames


HIEROS VASCONCELOS

Apontado como autor da morte do advogado Lucas Lorenzo Trigo, o garoto César Ferreira Santana faria 14 anos no dia 18 de junho deste ano e cursava a 5ª série no Colégio Estadual Iacy Vaz Fagundes, no Vale das Muriçocas, onde nasceu e foi criado.



Ele era o filho caçula da cozinheira Benedita dos Santos Ferreira e do pedreiro Antônio Santana, com quem morava com mais dois irmãos em uma casa de apenas três cômodos: sala, quarto e banheiro.



"A família está surpresa.



Eram três filhos, um deles é casado, o outro tem 16 anos. Não faltaram amor e dedicação", conta a tia materna do adolescente, a autônoma de prenome Lídia.



Procurada, a mãe do jovem não quis conversar com a imprensa.



Ela fritava galinha para o almoço do dia seguinte quando recebeu a notícia da morte do filho, na noite de anteontem. "Ela está muito abalada. Imagine você trabalhar para criar um filho e ver isso? Minha irmã não tem culpa", desabafa.



Irritada com a repercussão do caso na imprensa, que se referiu ao jovem como um "marginal", a tia de César culpa o Estado pela falta de perspectiva de jovens de baixa renda: "Se os governos incentivassem os jovens a estudar e trabalhar... Hoje, os pais têm que sair para trabalhar e não têm como vigiar os filhos".



Os parentes do adolescente reclamavam, ainda, que Benedita estaria sendo pressionada pela polícia para dar informações sobre o segundo acusado pela morte do advogado, preso à noite. "Ela não sabe quem é", dizia a irmã.



Os pais de César costumam sair para o trabalho pela manhã e retornar no final da tarde, horário em que o garoto já se encontrava em casa, o que não levantava suspeitas sobre a conduta dele.



Acompanhar os passos do adolescente e ter certeza de que ele frequentava a escola era tarefa muito difícil para o casal. Armas e drogas nunca foram encontradas dentro da pequena residência, segundo os familiares. "Aqui é uma casa de três cômodos, não teria como ele esconder algo da gente", diz o irmão do adolescente morto.

Amizades

No entanto, algumas amizades recentes do garoto teriam deixado os parentes preocupados.



Essas amizades teriam começado após uma casa de videogames ter sido instalada na região, atraindo crianças e adolescentes.



A tia Lídia contou que, no último domingo, ligou para o sobrinho e marcou para conversarem pessoalmente ontem.



"No dia em que a Justiça impedir que delinquentes e traficantes fiquem soltos para aliciar menores, o País muda", opinou um tio do garoto, que preferiu não ser identificado na reportagem.



Conforme ele, Benedita sempre proibiu os filhos de frequentarem lan houses e casas de videogames, e ela mesmo os retirava dos locais quando tomava conhecimento.



No dia do crime, um integrante da família faleceu no município de Valença, local de origem da família de Benedita. Ela e os filhos pretendiam viajar para o enterro ontem.

César Santana, que cursava a 5ª série, matou e foi morto antes de completar 14 anos de idade

Filho de uma cozinheira e um pedreiro, ele morava numa casa de três cômodos

"A família está surpresa. Não faltaram amor e dedicação"


LÍDIA, AUTÔNOMA, tia de César Ferreira Santana